domingo, abril 10, 2016

Espaços vazios

Passam dias e dias e quanto menos perspectivas se avizinham mais difícil é ter esperança na esperança. Explico. Isto de termos objectivos e sabermos lutar por eles, e todas essas tretas que nos impingem na escola e na vida, não resultam grande coisa quando chega a altura de as aplicar.

De novo desempregada, o sentimento que mais me assola é o vazio de todos os espaços, de todas as coisas, em mim e fora de mim. A falta de respostas às inúmeras candidaturas espontâneas ou respostas a anúncios. O desrespeito pelas capacidades que cada um tem para oferecer e a procura incansável (nossa) pelo emprego certo para as nossas medidas e (deles) pelo candidato robôt perfeito para atingir os objectivos estrategicamente delineados e que são avaliados - hoje mais que nunca, e cada vez mais - de forma quantitativa.



É assustador acordar a cada dia e perceber que não vai ser diferente do anterior. Nada para fazer, sonhos para adiar, planos incompletos. O vazio ocupa mesmo aqueles pequenos prazeres que temos, que passam a ser culpados. Culpa de não ter um emprego, de não ter uma carreira. De não estar "bem na vida" e parecer que não se faz nada por isso.

Vontade de não sair da cama na altura em que mais precisamos de sair e levanta a cabeça. Raiva por todos os olhares de desdém que só existem na nossa imaginação. Ódio das apresentações quinzenais na Junta de Freguesia como se fosse prisioneira. Medo que o tempo do subsídio termine antes de arranjar emprego. Nojo em pensar que é preciso aceitar "qualquer coisa" para ganhar a "vida" enquanto se adia a vida.

Pânico em pensar que afinal nunca vamos sair daqui, deste lugar sombrio e vazio onde estamos, onde a instabilidade do amanhã veio afinal para ficar, mesmo quando lutamos com todas as armas que temos para que não seja assim - para nós nem para ninguém. Imaginar os próximos dez anos entre CVs enviados, rectificados, adequados, entrevistas de emprego que não chegam ou que se apresentam como dinâmicas de grupo desnecessárias e absurdas para avaliar já ninguém sabe o quê.

Sonhos que se transformam em impossíveis porque nada do que traçámos funciona mais, sem antes termos que pensar "prático" e arranjar-nos da forma que for preciso. Na loja ali do centro comercial, ou então ao telefone mais uma vez - o pesadelo recorrente durante a noite de estar de novo presa aos headphones.

Medo, medo, medo de ter investido tanto da minha esperança em trazer tanto ao mundo para, afinal, ficar refém dele neste pequeno espaço que me ficou reservado (a mim e a tantos outros): o de espectador mais ou menos passivo da própria vida, que precisa de um salário mínimo para dizer que ganha alguma coisa, mas que não pode almejar sair da sala e do quarto de casa do pai, nem da cidade, nem do país, nem da própria cabeça, porque os tempos não estão para isso e o que é preciso é sobreviver. Sub-viver.

Zero.

1 comentário:

De um a zero?