Enquanto olhava pelo vidro do autocarro a caminho do centro da cidade, pensava como era bom reconhecer as ruas por onde passamos. Sem dúvidas, de cor, canto a canto. Recordava-me, também, da sensação de ter vivido noutra cidade, noutro país, e de como as suas ruas me faziam sentir. E quão diferentes podem ser dois sentimentos que produzem, no fundo, a mesma emoção.
Às vezes, ao atravessar uma passadeira quase sem fim em Londres, sentia o peito encher-se de algo inexplicável. Eu, bracarense nascida e criada, dezoito anos, atravessava com os meus pés ruas que dantes via apenas em imagens, em livros, revistas ou na televisão. Estava lá, fazia parte daquela gigante britânica, tinha uma rotina, ia ao supermercado e tinha a chave que abria uma casa.
A urgência de conhecer o mais possível e de me orientar no meio de uma confusão brutal era um assombro. Ao mesmo tempo, a sensação de sermos tão pequenos no mundo fazia-me sentir que tudo era mesmo possível na vida: um dia na Avenida Central, no dia seguinte em Trafalgar Square. Ser pequena e insignificante naquela cidade não me fazia sentir desanimada; pelo contrário, fazia-me sentir parte de um mapa infinito, com todas as possibilidades em aberto.
Todos os dias eram conquistas ao conhecer novos caminhos, ao perceber que aquela rua também vai dar àquela praça, conseguir perceber qual a melhor saída do metro para o local onde queria ir. E conquistar é uma sensação muitíssimo poderosa. Por outro lado, regressar a Braga tinha o mesmo sabor que quando voltava de férias em pequena. Reconhecer os primeiros prédios depois da saída da autoestrada, saber que estamos a chegar a casa: não há maior conforto do que estes pormenores.
Hoje, embora me faça muita falta partir para a conquista de novos territórios, a verdade é que amo com todas as forças saber exactamente onde estou. E mesmo assim conseguir descobrir pequenas novas coisas, como o último andar do prédio onde se costuma passar com os olhos postos na montra da loja do rés do chão, ou a janela que se abre num muro em que não costumamos reparar.
Braga é mais bonita ao final da tarde, quando o sol se começa a pôr. Transforma-se em nostalgia e memórias. Das ruas, dos trajectos, feitos tantas e tantas vezes ao longo dos anos. Em cada esquina, em cada parte da cidade, um pedaço de quem sou, de quem fui, de quem me tornei. Espero vir a conhecer muito mundo ainda, e desejo sentir-me um dia de novo como me sentia em Londres, mas nada substituirá nunca o amor que se ganha pela cidade que nos viu crescer.
Um ponto para as nossas ruas!
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