Queria dizer-lhe que dias como hoje quase parecem novos dias. Eu explico. Como se tivesse adormecido num sono muito longo e acordasse, enfim, e tudo tinha mudado - mas não o suficiente. Nesse sono longo muito foram pesadelos terríveis e outro tanto sonhos bons; de sol, de sorrisos, de conquistas.
Mas nesse sono longo faltava o que antes era fundamental. Em dias como hoje não falta, se quisermos ser rigorosos, nem é tão fundamental; foi deixando de ser. No entanto, os dias como hoje fazem parecer que as peças se encaixam melhor, que o ar se respira melhor, que há uma certa calmaria em todas as coisas.
Queria dizer-lhe, por isso, se um dia como hoje fosse um dia como antes, muito mais coisas do que os dias de hoje permitem. Na verdade, nem sequer faria sentido dizer hoje coisas destas. Mas num recanto guardado do que transportamos sempre connosco - com mais ou menos leveza - haveria muito para lhe dizer.
Gostava de lhe dizer, por exemplo, que ainda bem que nasceu, porque veio tornar o mundo melhor. Porque no meio do seu turbilhão há um sorriso gentil que faz toda a gente sentir-se bem. Como no meio da sua alegria, há uma pequena tormenta que o torna mais humano. E que no meio dessa sua pequena tormenta, há um poço sem fim de humanidade, de carinho e de amor.
Queria dizer-lhe que amor é o que alimenta a vida de toda a gente, mas que ele o merece de forma especial. Como às crianças, a quem se dá sem medir. Queria lembrá-lo que terá sempre nele todas as idades da vida, porque pode ser livre como um menino e ser ponderado como um velho sábio.
Precisava ainda de lhe dizer que não soube tomá-lo nos meus braços e protegê-lo de todo o mal e que, pelo contrário, fiz como o outro que transformava tudo em que tocava em ouro - só que de dourado teve muito pouco. Mas que desejo com todas as minhas forças, de dentro de todas as partes de mim, que alguém o tome no regaço e não o deixe cair nunca.
Desejo que ele tome alguém pela mão, firme e companheira como a dele, e saiba que pode ir até ao fim do mundo. Que todas as tormentas sejam pequenas e desapareçam, para dar lugar ao sorriso fácil. Desejo para ele o que desejo a todos de quem gosto muito: que encontrem em si e no mundo as melhores versões das coisas bonitas - mesmo que a sua vida siga para muito longe da minha, porque as tatuagens do coração não saem nem com laser.
Mas em dias normais eu diria: parabéns, felicidades e uma ou outra graçola. Engraçado como às vezes gostávamos de atafulhar em poucas palavras aquelas coisas que por norma não se dizem: abraçam-se e olham-se nos olhos.
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