Queria dizer-lhe que dias como hoje quase parecem novos dias. Eu explico. Como se tivesse adormecido num sono muito longo e acordasse, enfim, e tudo tinha mudado - mas não o suficiente. Nesse sono longo muito foram pesadelos terríveis e outro tanto sonhos bons; de sol, de sorrisos, de conquistas.
Mas nesse sono longo faltava o que antes era fundamental. Em dias como hoje não falta, se quisermos ser rigorosos, nem é tão fundamental; foi deixando de ser. No entanto, os dias como hoje fazem parecer que as peças se encaixam melhor, que o ar se respira melhor, que há uma certa calmaria em todas as coisas.
Queria dizer-lhe, por isso, se um dia como hoje fosse um dia como antes, muito mais coisas do que os dias de hoje permitem. Na verdade, nem sequer faria sentido dizer hoje coisas destas. Mas num recanto guardado do que transportamos sempre connosco - com mais ou menos leveza - haveria muito para lhe dizer.