segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Georgette

Não é um nome comum. Mas soa-me já familiar, embora não conheça mais nenhuma. Morreu no sábado, com 91 anos. Nunca a conheci; se já estivemos no mesmo espaço, não percebi quem era. No entanto, carrego-a no meu peito sempre, junto de muitos nomes que memorizei da ler e ouvir falar. Carrego-os a todos com o devido peso que merecem, e com um carinho e estima difíceis de explicar.

Talvez porque não tenha conhecido quase nenhum. À excepção de dois ou três que tive a sorte de poder abraçar, tocar e ver - porque ainda estão vivos e activos nas lides partidárias - todos os outros são memórias, fotografias a preto e branco e descrições.

A Georgette era irmã da Sofia, e é desta forma que muitos a conhecerão; enquanto que outros reconhecerão a Georgette por si só, já que foi deputada na Assembleia da República, facto que só este fim-de-semana, a propósito da sua morte, conheci. Foi também membro do Comité Central do PCP, que deixou, a par da Assembleia da República, em 1988. Ano em que eu nasci. Coincidências.

A primeira vez que ouvi falar, ou melhor, a primeira vez que li sobre a Georgette Ferreira foi, curiosamente, no livro da Zita Seabra "Foi Assim". O meu avô tinha-o comprado e num fim-de-semana de visita suscitou-me curiosidade. Sei que ele ficou contente por eu lho pedir emprestado, acho até que no seu íntimo achou que lê-lo me curaria desta percepção errada que tenho sobre o mundo e a vida, que é ser comunista.